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Um dos possíveis berços da civilização suméria, a cidade de Eridu, no Iraque, ficou abandonada e esquecida por milênios, antes de ser redescoberta
Publicado em 14/06/2025, às 09h00
Em 1854, o oficial britânico John George Taylor foi enviado em uma missão de escavação em meio ao deserto do sul do Iraque pelo cônsul-geral britânico em Bagdá. Sendo ele um agente da Companhia das Índia Orientais e vice-cônsul em Basra, ele recebeu a função de investigar um sítio arqueológico remoto até então chamado de Tell Abu Shahrain, onde havia uma série de montes compostos por restos de assentamentos — que revelou, posteriormente, abrigar uma das cidades mais antigas do mundo.
A primeiro momento, Taylor não se impressionou tanto com o local, escrevendo em seu relatório de escavação, em 1855, que a "visita [...] não produziu nenhum resultado muito importante". Inclusive, ele até mesmo se questionou se valia a pena transcrever ou não suas anotações de campo.
Na época, o que Taylor esperava encontrar eram grandes estátuas, inscrições, evidências de palácios e templos. Em vez disso, se deparou apenas com restos de muros, sistemas de drenagem, plataformas de pedra e restos de colunas de calcário decoradas com cones de mosaico.
Um achado que destacou em seu diário foi um leão de granito negro jazendo na superfície, mas que, embora fosse impressionante, ainda não seria material suficiente para justificar uma segunda expedição. Foi somente mais tarde que seria revelado que, naquele local, já existiu uma das cidades mais antigas do mundo: Eridu.
Segundo o National Geographic, Eridu é considerada uma cidade fundamental na cultura suméria — esta uma das civilizações mais antigas do mundo —, florescendo entre o quarto e o segundo milênio a.C.. Sua importância na região se evidencia pela Lista de Reis Sumérios, cujas várias versões foram escritas no fim do terceiro milênio a.C..
Isso porque, na última parte da lista, são descritas cidades com dinastias reais que podem ser verificadas a partir de registros históricos. E logo na parte inicial da lista, que é também a mais lendária por registrar as cidades que existiram antes do "Dilúvio" — evento que pode ser uma catástrofe regional ou até uma relação à história bíblica —, sendo a primeira delas Eridu. "Depois que a realeza desceu do céu, a realeza estava em Eridu... Em cinco cidades, oito reis... Então o dilúvio varreu", está escrito.
Vale destacar também que, com tamanha importância simbólica para os sumérios, Eridu abrigava o maior templo dedicado a Enki, deus da água e da sabedoria, que durante séculos atraiu peregrinos de toda a Mesopotâmia.
Embora Taylor tenha se decepcionado com suas escavações no local, as descobertas iniciais já foram suficientes para chamar atenção de outros estudiosos. Durante décadas, não ocorreu nenhuma investigação em larga escala em Eridu, até que, em 1918, funcionários do Museu Britânico contrataram o assiriólogo Reginald Campbell Thompson para escavar o sítio.
Durante um mês, Campbell trabalhou em pesquisas arqueológicas no local, utilizando de mão de obra de otomanos, prisioneiros da Primeira Guerra Mundial. Porém, ele não foi o único a explorar Eridu. No ano seguinte, o egiptólogo britânico Harry RH Hall também visitou o local, a fim de identificar os edifícios monumentais que ali já existiram.
Mas foi somente em 1946, já após a Segunda Guerra, que as primeiras escavações em larga escala foram feitas por lá. Vale destacar que o Iraque conquistou independência da Grã-Bretanha em 1932, e o governo iraquiano ou a ter grande interesse em financiar projetos que permitissem dar prestígio às narrativas de construção nacional.
Para isso, o Departamento de Antiguidades do Iraque retomou as pesquisas no sítio arqueológico, dessa vez sob a direção do arqueólogo iraquiano Fuad Safar, em colaboração com o britânico Seton Lloyd, com quem já havia trabalhado junto em outras escavações. A dupla acreditava que uma escavação completa em Eridu poderia fornecer informações importantes sobre as primeiras fases da história mesopotâmica.
Logo de cara, os arqueólogos concentraram seus esforços no Monte 1, com 25 metros de altura e que cobria uma área de 580 por 540 metros. Não demorou até que eles descobrissem ali os restos de um zigurate — uma espécie de templo em forma de pirâmide — inacabado, construído no fim do terceiro milênio a.C., durante a dinastia de Ur, um estado sumério tardio e de curta duração.
Porém, as descobertas não pararam por aí. Embora o zigurate já seja um achado que contentaria até Taylor, abaixo dele ainda foram encontrados vestígios do período Ur III (do século 21 a.C.), com níveis ainda mais antigos de ocupação humana. E quando mais cavavam, mais regrediam na história.
Eventualmente, se depararam com um estrato datado do período de Uruk (4.500 a.C. - 3.200 a.C.), e, abaixo dele, havia vestígios do período proto-histórico, pré-sumério, de Ubaid (5.300 a.C. - 3.800 a.C.). Também encontraram múltiplas reconstruções do templo de Enki, feitas ao longo de dois milênios, e outros locais de culto.
Conforme explica ao National Geographic o historiador italiano da Mesopotâmia, Mario Liverani, os templos de Eridu foram "reconstruídos e expandidos após cada colapso, e seus restos formaram uma plataforma elevada sobre a qual novos templos foram construídos". Conforme o templo de Enki era reconstruído repetidamente, sua estrutura foi evoluindo cada vez mais.
Além disso, o historiador também acrescenta que, a partir de meados do quarto milênio a.C., novas interações do templo tornaram-se progressivamente maiores. "Esses edifícios imponentes... substituíram de longe qualquer coisa já construída até então", explica.
Com isso, é bastante significativa a descoberta, pois o surgimento do templo marca uma transição do culto doméstico para o culto em locais construídos com essa finalidade. Em paralelo, também há evidências do surgimento de hierarquias sociais mais complexas na cidade, nesse período.
Por fim, ainda sobre o templo, os arqueólogos pontuam que as reconstruções pararam de acontecer por volta de 3.200 a.C., e retornaram brevemente um milênio depois, sob o poder de Ur III, quando o zigurate foi erguido definitivamente sobre as ruínas de tudo que existiu por ali anteriormente.
Apesar de Eridu possuir tamanha importância para os sumérios, ela não escapou do eventual declínio; porém, continuou a ter relevância como local de peregrinação. E escavações realizadas ao seu redor forneceram ainda mais pistas sobre sua cronologia.
Durante pesquisas no Monte 2, foram encontrados os restos de um complexo palaciano da primeira metade do terceiro milênio a.C.; já nos montes 3, 4 e 5, foram achadas cerâmicas dos séculos 2 e 1 a.C., mas sem vestígios de edifícios residenciais. O que os pesquisadores concluem é que a cidade, naquela época, já era escassamente povoada.
A pesquisa feita por Safar e Lloyd foi publicada só em 1981, e até hoje pesquisadores de diferentes países buscam retomar as escavações em Eridu, a fim de conhecer ainda mais os segredos soterrados na cidade mais antiga de uma das civilizações mais antigas do mundo.