Uma carta íntima escrita por John Lennon em 1962 à sua então namorada e futura esposa, Cynthia Powell, será leiloada no dia 9 de julho pela Christie’s
Luiza Lopes, sob supervisão de Éric Moreira Publicado em 11/06/2025, às 09h28
Uma carta íntima escrita por John Lennon em 1962, quando ainda era um jovem de 21 anos e os Beatles estavam longe da fama global, será leiloada no dia 9 de julho pela Christie’s, com lance estimado entre ₤30 mil e ₤40 mil (cerca de R$225 mil a R$300 mil).
O manuscrito é endereçado à sua então namorada e futura esposa, Cynthia Powell, e foi escrito ao longo de cinco noites durante uma temporada da banda no Star-Club, em Hamburgo (Alemanha). Com um tom direto, carente e por vezes escrachado, Lennon mistura notícias sobre a rotina da banda com declarações de amor obsessivas e desejos sexuais mal disfarçados.
“Eu te amo, amo, amo e estou morrendo de saudades… Queria estar a caminho do seu apartamento com os jornais de domingo, uns chocolatinhos e um tesão”, escreve ele, num trecho que resume o teor do texto, considerado pela casa de leilões como “obsceno e engraçado”.
Há também espaço para pequenas irritações cotidianas: Lennon reclama que Paul McCartney roncava no beliche acima do seu, escrevendo: “Cala a boca, Mcarntey! [sic]”. E demonstra ciúmes ao criticar a possibilidade de Cynthia dividir casa com Dot Rhone, namorada de Paul, em Liverpool: “Nunca teríamos um momento a sós de verdade… imagina ela lá o tempo todo quando estivéssemos na cama – e imagina o Paul aparecendo o tempo todo”.
Ele encerra: “Eu te amo. Por favor, espera por mim, não fique triste e estude bastante, seja uma Cyn Powell bem esperta”.
Além das investidas amorosas, a carta oferece vislumbres da vida dos Beatles no início dos anos 1960. Lennon comenta sobre a morte recente do ex-baixistaStuart Sutcliffe, amigo íntimo, que falecera de hemorragia cerebral poucos dias antes. Menciona também a noiva de Stuart, Astrid Kirchherr, fotógrafa alemã ligada ao visual inicial da banda, mas diz sentir-se “esquisito” para visitá-la.
O documento mostra um Lennonainda cru, impulsivo, muito diferente do artista mais reservado e engajado que viria depois. Em nota, Thomas Venning, diretor da seção de livros e manuscritos da Christie’s, afirmou que a carta revela uma personalidade irreverente e espontânea, ao contrário das correspondências posteriores, “que são mais cautelosas e doutrinárias”.
É uma visão precoce sobre os Beatles, na época em que estavam em Hamburgo, que foi tão crucial para o desenvolvimento da banda”, disse.
O texto ainda menciona a exaustiva rotina de shows da banda, o entusiasmo de Lennon com o casaco novo de camurça, pedidos de letras de músicas, a estrutura do clube e referências a figuras-chave da época, como o empresário Allan Williams, o segurança Horst Fascher e a tia Mimi Smith, repercute o The Guardian.
Cynthia e John haviam se conhecido no Liverpool College of Art em 1958. Casaram-se em agosto de 1962, e Julian, o único filho do casal, nasceu no ano seguinte, poucos dias após o lançamento do primeiro álbum dos Beatles. O casamento durou até 1968, quando se separaram em meio ao crescimento da fama e dos conflitos pessoais. Anos depois, Cynthia revelou episódios de agressão por parte de Lennon durante a relação.
Segundo a Christie's, a carta foi vendida por Cynthia a um colecionador sueco em 1991 e mudou de mãos em 1993. Esta será a primeira vez que será colocada em leilão público. Publicada com fac-símile no livro The John Lennon Letters (2012), de Hunter Davies, teve dois trechos censurados por ela, provavelmente por seu conteúdo sexual.
