'O Homem do Saco' estreou nos cinemas brasileiros nesta semana, trazendo adaptação de lenda que surgiu na Idade Média e teria relação com crime real
Na última quinta-feira, 30, estreou nos cinemas brasileiros o filme de terror 'O Homem do Saco'.
A produção, dirigida por Colm McCarthy e roteirizada por John Hulme, conta em seu elenco com nomes como Sam Claflin e Antonia Thomas.
"Uma família se vê envolvida em um pesadelo enquanto é caçada por uma criatura mítica e maligna. Durante séculos e em todas as culturas, os pais alertaram os seus filhos sobre o lendário Homem do Saco, que rapta crianças inocentes para nunca mais serem vistas. Patrick McKee (Claflin) escapou por pouco quando menino, o que o deixou com cicatrizes ao longo de sua vida adulta. Agora, o pesadelo da infância de Patrick voltou, ameaçando a segurança de sua esposa Karina (Thomas) e de seu filho", diz a sinopse.
'O Homem do Saco', que já está em cartaz, porém, possui uma peculiaridade em relação ao conto original.
Afinal, no longa, a criatura não persegue as crianças mal-educadas e grosseiras, mas sim aquelas que se comportam bem e fazem boas ações. 'O Homem do Saco' se alimenta do medo de suas vítimas.
O conto urbano do Homem do Saco se tornou muito popular em diversos países, especialmente na América Latina. Mas qual a origem da história do sujeito que sequestra crianças malcomportadas e as colocam num saco em que carregava nas costas?
Dependendo da região do Brasil, o Homem do Saco pode ser conhecido por outros nomes, como Velho do Saco ou Papa-Figo. Mas engana-se quem pensa que a lenda urbana é originária de nosso país.
A história, afinal, é contada em todo mundo há séculos. Segundo a lenda, um ser com características antropomórficas caminha pelas ruas caçando crianças que foram desobedientes ou cometeram maldades.
Há também a versão da lenda que ele seja uma figura poderosa e doente, que devora suas vítimas para curar uma doença. Daí o nome Papa- Figo, que pode ter sido originado por conta de um crime real ocorrido na Espanha em 1910 (que será lembrado mais abaixo). Essa narrativa mais sanguinária, aliás, foi escolhida para a adaptação cinematográfica.
Dependendo da região brasileira, o Homem do Saco é representado de maneira diferente: sendo desde um idoso de aparência comum até mesmo uma criatura com garras e longos dentes. Geralmente, ele ataca suas vítimas durante o período noturno.
Conforme recorda matéria do Brasil Escola, no início do século ado, a lenda do Papa-Figo ou a ser associado com pessoas que sofriam de hanseníase — na época popularizada como lepra. Uma forma de estigmatizar ainda mais o grupo.
Em seu livro 'Folclore do Brasil', Luís da Câmara Cascudo relata que o Homem do Saco também chegou a ser descrito como um idoso negro, sujo e que vestia farrapos. O sujeito raptava crianças para vendê-las para pessoas de alto poder econômico que sofriam com a doença.
Acredita-se que a lenda do Homem do Saco exista desde a Idade Média, sendo usada para amedrontar e educar crianças desobedientes; ou também evitar que elas frequentem lugares perigosos, se coloquem em situações de risco para sua integridade física ou interajam com pessoas desconhecidas.
No século 18, por exemplo, a lenda fora retratada em algumas pinturas. No entanto, foi somente no começo do século ado que também ou a ser chamado de Papa-Figo.
A popularização pode ter ocorrido por conta do Crime de Gádor, ocorrido em 1910, no município de Gádor, na Espanha. Naquele ano, Bernardo González Parra, de apenas sete anos, foi sequestrado e brutalmente assassinado.
Seu raptor era Francisco Leona, que fora contratado por Francisco Ortega, um homem rico que sofria de tuberculose. O Brasil Escola recorda que Ortega recebeu a visita da curandeira, Agustina Rodriguez, que apontou que ele seria curado caso bebesse sangue de uma criança e asse a gordura dela em seu peito.
Por conta do crime, Ortega, Leona e Rodriguez foram condenados à morte pelo crime. Assim, a lenda também ou a ganhar o nome de Papa-Fígado em algumas regiões; e no Nordeste brasileiro se tornou Papa-Figo.
